Trabalhadores é que<br>não vêem nada...
LUSA
O PCP criticou PSD e CDS por fazerem uma «leitura linear» dos resultados do turismo – sector que mais recentemente, depois de anos de dificuldades, tem vindo a apresentar bons resultados –, e de ignorarem por completo o «enquadramento externo» e o facto de muitos desses resultados terem sido obtidos à custa da sobre-exploração dos trabalhadores.
Esta posição foi assumida em nome da sua bancada pelo deputado comunista João Ramos, em recente debate centrado num projecto de resolução do PSD recomendando ao Governo medidas que promovam a dinamização e o crescimento do turismo.
Num debate onde o PSD afirmou repetidamente números e percentagens para puxar pela ideia de que o «sector do turismo é o mais relevante para a recuperação económica» – conseguindo a proeza de no meio de tanta exaltação ao sector nem uma palavra ou uma das mais de duas dezenas de propostas que apresentou ter sido dedicado aos trabalhadores – coube ao PCP sublinhar que «não há sucesso no sector se os trabalhadores não forem respeitados».
E foi ainda o PCP – que nos últimos anos não se cansou de denunciar a recusa dos patrões em negociar os contratos colectivos de trabalho – que, pela voz dos deputados João Ramos, Paulo Sá e Rita Rato, lembrou que o «discurso do sucesso» do PSD e do CDS passa ao lado da realidade do conjunto de pequenas empresas que fora de Lisboa, do Algarve e do Porto, e até mesmo nestas regiões, «não viram reflectido nas suas receitas esse sucesso que, sendo global, chegou mais facilmente aos grandes grupos do que às pequenas empresas que garantem que a oferta cobre todo o território nacional».
Retórica em torno do «sucesso» que igualmente ignora – ao mesmo tempo que o PSD se mostra preocupado com os «elevados custos de trabalho» – que no sector estejam a ser praticados dos salários mais baixos da nossa economia (mais de um quinto dos trabalhadores recebe o salário mínimo nacional), que cerca de 40 por cento dos trabalhadores tenham contratos a prazo, que haja o recurso alargado a empresas de trabalho temporário e que haja trabalhadores contratados ao dia e à hora.
Os deputados comunistas não deixaram ainda de considerar extraordinário que quem não mexeu uma palha para que o nosso País tenha um novo Plano Estratégico Nacional para o Turismo e uma Conta Satélite do Turismo venha agora «defender um e outro como sendo muito importantes». A crítica é de João Ramos, que verberou ainda PSD e CDS por «falarem de promoção externa mas não terem conseguido em quatro anos desenhar um modelo de promoção externa para o sector».
Pela sua parte, o PCP «estará sempre ao lado dos sectores produtivos, nomeadamente das micro, pequenas e médias empresas, dos seus trabalhadores, da sua viabilidade e de uma justa distribuição da riqueza produzida», foi a garantia deixada pelo PCP no debate.